domingo, 11 de dezembro de 2011

Antonio Carlos Monteiro - Crítico Musical

Antonio Carlos Monteiro, respeitado crítico musical, é redator da Revista Roadie Crew, melhor revista de Classic Rock na atualidade. Já escreveu para revistas como Metal, Rock Brigade entre outras. 

Você  está no meio há muito tempo, me lembro da Revista Metal nos anos 80 e acho que a Roll (me corrija se estiver errado). Em que ano você vê o início de uma mudança no cenário heavy metal (cito após aquela fase dos anos 80/90)? Por que o metal melódico domina o mundo com força e quais destas bandas você acha que é boa?
   
   Creio que o principal fator que impulsionou o heavy metal tenha sido a profissionalismo que felizmente chegou também a esse gênero. Hoje é impensável e incabível uma banda subir num palco bêbada ou alta graças a qualquer outra substâncias e fazer um show "meia boca". Quem fizer isso abrevia a carreira a partir daí. Na verdade, podemos dizer que o mundo da música vem se profissionalizando há tempos, o heavy metal talvez tenha sido um dos últimos estilos a adotar essa postura.  
Bandas como Deep Purple, Moody Blues, ou mesmo o Van  der Graaf, tiveram experiência com orquestras, bandas como Therion faz isso hoje, o Celtic Frost, eu vejo que no Mega Therion tentou utilizar, por que a rejeição de muitos hoje neste estilo e nesta mistura?

   Isso vai muito do radicalismo dos fãs. Os radicais jamais vão aceitar que aquelas músicas que eles adoram sejam "mutiladas" recebendo versões orquestradas. Mas bandas como Aerosmith, Epica e o próprio Therion que você cita tiveram experiências muito bem sucedidas nesse aspecto, graças não só à competência indiscutível dos músicos mas também ao fato de terem fãs um pouco mais abertos às inovações.
Onde você  acha que os downloads prejudicam e ajudam a música? Aproveitando, qual o seu contato como o pessoal antigo da Rock Brigade e com a Woodstock discos (cito os downloads e a Woodstock, porque uma vez li uma resenha na Brigade onde alguém criticava o Walcyr e colocava a woodstock como “aquela loja que pirateava discos na maior cara de pau”), o que aconteceu, ou, se é que aconteceu algo?
   
   São três perguntas em uma, então vamos por partes...
A discussão sobre o download ilegal é infinita. Creio que seja uma ótima mídia para bandas iniciantes e tenho visto várias delas lançarem mão desse meio com inteligência. Muitas bandas mandam material para a gente dar uma opinião de forma virtual e isso facilita as coisas – antes da internet, teriam que gravar uma fita ou um CD, o que implicaria em altos custos. Porém, no caso das bandas que dependem (ou dependiam...) disso, a coisa ficou complicada. Um grande músico (o batera do Allman Brothers), Butch Trucks, me disse textualmente: "Eu não vou sair da minha casa, guiar até um estúdio e gastar uma fortuna num disco pra no dia seguinte todo mundo ter isso de graça." Não dá pra discordar da postura dele. E os prejudicados somos nós, os apreciadores de música. Qual a solução para isso? Se eu descobrir, comercializo e fico milionário...
Sobre a Rock Brigade, mantenho relação de amizade com alguns ex-integrantes da revista, como Ricardo Franzin, Charley Gima, Tiago Bechara e Adriano Coelho. No que se refere à revista em si, minha saída da editora não foi das mais serenas, já que tive que recorrer à Justiça para receber uma considerável verba que me era devida. Assim, prefiro não falar a respeito da revista.
O contato que mantive com a Woodstock foi apenas profissional e há bastante tempo. Há  muitos anos não mantenho contato com eles.
Sobre a acusação feita à Woodstock, nada sei a respeito. Sugiro que você procure o redator responsável por aquele texto.  
Qual seu melhor momento em sua vida musical, o que ainda o chama a atenção e o que foi péssimo que não faria se pudesse voltar?

   Bom, é aquela história, a gente está nessa porque é fã. É o tipo de trabalho impossível de se fazer se não curtir a música. Então, sem dúvida o ponto mais alto foi ter entrevistado Alice Cooper, um dos meus maiores ídolos, em 2006. Ele concedeu apenas cinco entrevistas, quinze minutos cada uma, e eu tive o privilégio de ser um deles. E foi muito especial! Alice é muito educado, extremamente inteligente e sabe como se portar numa entrevista.
Sobre os maus momentos, felizmente nesses 25 anos nunca aconteceu nada que ficasse marcado de forma negativa. Já tentaram me processar (perderam), já aconteceram várias entrevistas que não renderam o esperado, já houve críticas que, se pudesse, refaria. Mas nada de muito grave, felizmente. 
Cito em uma passagem do livro que alguns discos que a gente compra no início, tem valor sentimental, mas na verdade não são bons, um disco que ganhei e escutei muito foi o Rock in a Hard Place, do Aerosmith, na Roadie Crew  (rock collection) é citado como “cuidado”, há algum disco ou banda que você considera nesta situação?

   É muito interessante essa situação, não é mesmo? A gente como fã/ouvinte acaba criando uma relação pessoal com certos artistas ou certos discos. No meu caso, o que tenho a revelar não tem a ver com heavy metal. Como você mesmo já citou, trabalhei alguns anos na revista Roll, que tratava de rock e pop em geral. A revista era do Rio de Janeiro e eu era setorista em São Paulo, onde morava na época (hoje resido em Campinas). Foi na época em que o RPM estourou e o lançamento do disco de estreia deles ia ser no Teatro Bandeirantes. Fui lá entrevistar a turma – o disco não tinha saído, mas o single "Louras Geladas" estava estourado nas rádios e nas paradas. Foi barba, cabelo e bigode. Fiz uma matéria técnica com o Luiz Schiavon para a outra revista da editora, Mix (que tratava de técnicas e equipamentos), e uma longa entrevista sobre a banda e sobre rock em geral com Paulo Ricardo e Fernando Deluqui. Os dois foram extremamente gentis e profissionais, foi uma entrevista longa que acabou se tornando minha primeira matéria de destaque. Isso acabou criando um vínculo meu com a banda... Sei de tudo de ruim que se pode falar dela, mas não consigo deixar de gostar. Inclusive, recentemente a Rede Globo apresentou uma espécie de "docudrama" sobre a banda e apareceram imagens de várias capas da saudosa Roll.
Detalhe: não sei se você lembra, mas esse "Roadie Ciollection" do Aerosmith fui em que fiz... 
O que você  espera do heavy metal no Brasil?

   Tenho percebo que as bandas maiores estão conseguindo se virar muito bem nesse momento de tantos downloads ilegais. Em vez de ficar choramingando pelos cantos, a moçada tem procurado reduzir custos sem diminuir a qualidade e está buscando outros meios de fazer a coisa acontecer. Creio que isso denota profissionalismo e, respondendo enfim à sua pergunta, acho que o estilo só tende a crescer ainda mais. Mas o que mais espero, mesmo, é mais criatividade. Bandas que surpreendam, que tirem o "coelho da cartola", como tantas já fizeram por aqui.

Um comentário:

  1. Olá, curti a reportagem, também sou músico e tenho uma banda de rock and roll:
    http://tnb.art.br/rede/thewalkins

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