domingo, 11 de dezembro de 2011

Luis Carlos Calanca - Baratos Afins

Esta entrevista teve como finalidade buscar trechos e colocá-los num capítulo de meu livro, segue a entrevista completa deste que é um dos maiores nomes do rock brasileiro, empresário e amante de boa música. Pessoa simpática que tem em sua simplicidade uma grande demonstração de força e lealdade aos seus ideais.

Há alguma banda que você pensou: não esta banda não tem futuro ou que apostou e errou feio e aconteceu o inverso?

   Eu sempre erro, porém nunca me arrependi, eu ouvi o Legião Urbana  e pensei isso, errei feio,  mas orgulhoso de não ter apostado. 

Qual trabalho lançado que você ficou orgulhoso e faria, hoje, todos procedimentos idênticos, para que ficasse igual e há algum trabalho que, também hoje, você mudaria tudo mesmo, porque considera um trabalho de qualidade?

    Eu sempre me orgulho dos trabalhos, mas eu nunca mudaria nada, eu nunca aprovei nem re-masterizações de discos, eu acho isso igual a você querer botar um rouge na Monalisa porque a obra esta um pouco desbotada, acho que este procedimento descaracteriza a obra original.

O que você escuta hoje? 

   Eu escuto de tudo menos musica eletrônica,  Hip Hop  e Metal extremo, essas coisas não fazem parte de minha cultura e me da nos cornos depois da terceira música.


Como anda o selo "baratos e afins" hoje e quando foi que decidiu montar o selo?

   A montagem do selo foi meio acidental na minha vida teve um período  que eu virava noites em estúdios, isso só afetou a minha saúde, atualmente estou mais sossegado, o selo  continua ativo porém com lançamentos mais esporádicos,  hoje todo mundo tem um computador e produzem  música em casa,  o difícil é sair da poeira cósmica da internet  e chegar ao ouvinte que ao menos re-visita alguma obra , a grande maioria das musicas que se produzem hoje (Salvo Raras exceções ) é MP1 ou seja só da para ouvir uma vez, para dizer que já fez, se você tiver uma referência  sobre ela, nem ouvir você quer.

As bandas de heavy metal eram mais difíceis do que as de rock? Quais bandas eram humildes e quais eram aquelas que já se achavam superstar?

   Eu sou um traidor do movimento, eu produzi algumas bandas que são consideradas Metal mas que eram hard rock, eu me aborreci muito com a cena, porque algumas pessoas mais radicais se achavam melhores que as bandas que eu produzi e me discriminavam na noite e depois eu não gosto de praticamente nada dos caminhos que o Heavy Metal tomou no Brasil e no mundo,
 
Em que a internet ajuda e o que atrapalha? O disco de vinil não eram vendidos em barraquinhas como é o cd, mas sabíamos que existiam os discos não oficiais e que eram comercializados normalmente, inclusive como picture disc, bootlegs, etc. O download liberou geral, tem algo que já pensou em relação ao assunto ou em algum momento já pensou vou desistir não dá pra competir?

   O ISRS quer dizer International System Record Code, é seria  justamente para o controle eletrônico dos direitos autorais e intelectuais de uma obra,   mas  isso não aconteceu, pelo menos por enquanto, enquanto  órgãos controladores tipo o ECAD daqui  estiver no controle  a coisa não devera mudar.
Eu acho que a internet mais atrapalha que ajuda,  é verdade que tem bandas que nasce com o rabo virado para a Lua e da sorte, outras são marqueteiras como o Radiohead que depois de vasar o In Raibow na rede os integrantes soltaram o “cada um paga o que quer “ e a coisa deu certo. O Sexo tambem é de graça na net mas não satisfaz ninguém plenamente,  não tenho nada contra os downloads mas eu acho isso tudo como a história das balas Van Melle  que o carinha dava de graça na porta das escolas até viciar o agraciado,  depois só para venda, um dia tudo terá um preço na net, só não musica ruim, a musica ruim terá que ser eternamente de graça,  mas a boa...  não tem sentido o artista dar a única coisa que ele tem para vender que é a sua obra,  nós estamos vivendo um período transitório em que o admirável mundo novo nem é tão novo e nem tão admirável  as pessoas hoje perderam a cultura de se ouvir musica em coletivo num mundo globalizado em que o individuo esta cada vez mais solitário no seu mundinho bolha  com um fonezinho atolado na orelha  sem nenhuma referencia, contrariando a tese de Andy Warhol  de que um dia todos seriam famosos por 15 minutos, hoje as pessoas são famosas para outras 15 pessoas.

O que você considera essencial para que a loja Baratos e Afins esteja até hoje no mercado?

   Acho que estamos ainda resistindo porque eu sempre acreditei no disco de vinil,  principalmente no momento em que o mundo todo estava encantado com o cd (menos eu)  isso me custou algumas amizades e clientes que me abandonaram porque bateram boca comigo, diziam que eu estava surdo e tal, mas o glamour pelo cd acabou,  hoje todo engenheiro de áudio e acústica ressalta as qualidades do analógico,  acho que eu estou gozando de um certo feedback de minha visão, mas não acredito  nessa história de que o Vinil esta voltando, (até porque ele nunca nem foi ) o que é real é que a Polysom voltou a funcionar no Brasil mas a produção ainda é muito baixa e muito cara e isso só valorizou ainda mais os meus discos  eu sempre digo que estou vivendo “bônus tracks”  e já passei do limite de fôlego de uma empresa,  hoje podemos dizer que depois da Som Livre a Baratos Afins é a Gravadora mais velha do pais, isso para mim já é uma benção.
Há um registro em vídeo ruído de Minas, que diz que a cena mineira foi a mais forte e representativa do Brasil, você que esteve envolvimento direto nas produções paulistas considera este relato tendencioso pela matéria ou São Paulo, foi e é o grande centro do rock no Brasil? 

   São Paulo é o Centro Nervoso do Pais e abriga gente de diferentes regiões, e teve uma vasta produção de obras relevantes para a cultura do pais, a Musica mineira  também é maravilhosa,  porem só teve visibilidade nos tempos do club da esquina,  fora isso  apesar  de não ser na minha onda  o Sepultura foi uma banda que cruzou o atlântico, esse mérito eles tem, eu acho uma bobagem essa coisa de bairrismo e comparações , cada banda tem sua personalidade e cara própria, ninguém é melhor que ninguém, eu jamais ficaria feliz ouvindo Beatles o tempo todo,  tem momentos em que a musica triste é o melhor remédio para melancolia, noutros é irritante ouvir funiculi funicula  comendo pizza na feira da Achiropita.   

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